quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Avaliação de 4º Bimestre - Primeiro Ano (Sociologia)

Seguem os links para a avaliação do 4º bimestre. São 4 - 3 textos com perguntas sobre eles e uma avaliação final. 

1º Ano/ 4º Bim/ 1º Estudo - Estigmas: colocando rótulos - http://goo.gl/forms/QLuqPaFxmP  
1º Ano/ 4º Bim/ 2º Estudo - Preconceito e Discriminação - http://goo.gl/forms/q2EYpmKRJm  
1º Ano/ 4º Bim/ 3º Estudo - Ações afirmativas: o que é isso? - http://goo.gl/forms/2uPM3fcJhu  
1º Ano | 4º Bim | Avaliação  - http://goo.gl/forms/hvcmGnHKQb  

As regras do jogo: 
-Pode ser feito individual ou em grupo de, no máximo, 4 pessoas 
-Devem ser respondidos ou entregues até dia 4/12, ou seja, nossa próxima aula. 
-Podem ser respondidos diretamente online ou só as respostas em papel (prefiro que seja online, mas se não tiver como, ok) 
-Lembrem de colocar os nomes de cada componente do grupo. 
-Não copiem respostas da internet!!!  

Qualquer dúvida, entre em contato: 
Email
re.rsantos@hotmail.com 
Facebook: 
Blog da Professora Renata (página) 
Professora Renata (perfil) 


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Avaliação Final - Segundo Ano (Sociologia)


PRIMEIRA ETAPA - INDIVIDUAL
 
Entrevista com algum familiar (pai, mãe, tia, tio...) de 30 anos ou mais que trabalhe.
 
  1. Identificação
    1. Grau de parentesco
    2. Idade
    3. Profissão

  1. Vida profissional
    1. Qual foi seu primeiro trabalho?
    2. Com quantos anos você começou a trabalhar?
    3. Qual foi o motivo pelo qual você começou a trabalhar?
    4. Você se arrepende de ter começado a trabalhar com essa idade? Se tivesse outra oportunidade, começaria mais cedo ou mais tarde?

  1. Sonhos e expectativas
    1. Quando era criancinha, o que você respondia quando perguntavam o que queria ser quando crescesse?
    2. E quando você tinha a minha idade? O que você queria ser profissionalmente?
    3. Por que você acha que isso não aconteceu?
    4. Se você pudesse voltar no tempo em que você tinha a minha idade e dar um conselho pra você mesmo, qual conselho você daria?

 

 SEGUNDA ETAPA - GRUPO DE 3 A 5 INTEGRANTES
  1. Analisem brevemente as respostas. Foram parecidas? Alguma surpreendente?
  2. Relacione as respostas do bloco 2 (Vida profissional) ao texto "Desenvolvimento Humano e Capitalismo".
  3. Assistam ao vídeo "Como desempacar e começar qualquer projeto" e relacionem às respostas do bloco 3 (Sonhos e expectativas).

Desenvolvimento humano e capitalismo


Atualmente, no bojo da sociedade capitalista, a palavra "trabalho" nos remete, imediatamente, à ideia de emprego, ou seja, o trabalho em troca de salário, mas não necessariamente da satisfação das necessidades humanas. Por isso, para Marx, o capitalismo possibilitou a emergência da venda da força de trabalho em troca do que chamamos de salário. Trabalhamos ara termos condições de comprarmos outras coisas que julgamos precisar e que outras pessoas produzem e assim por diante. Neste sentido, é importante assinalar que o trabalho, mas do que realização humana é, hoje, um meio para o consumo - trabalha-se para se poder comprar.

Pesquisas apontam que, no contexto da sociedade capitalista, a classe trabalhadora produz para, com isso, obter condições de também consumir, mais do que atender às necessidades básicas de comer, vestir, morar, estudar e se distrair. O consumo passa a ser um elemento fundamental na manutenção dessas condições e torna o produto a ser comprado o elemento mais importante para a satisfação pessoal do trabalhador - uma corrida desesperada a ter cada vez mais aquilo que não se necessita.




Extrato adaptado de GUZZO, R.; TIZZEI, R.; ALVES, L. Sofrimento e vida: (Im) possibilidades de enfrentamento e superações. In: Psicologia Social: Perspectivas críticas de atuação e pesquisa.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Trabalho remunerado diminui tempo livre


Todas as análises que têm sido feitas demonstram que desde os anos 2000 o mercado de trabalho brasileiro tem melhorado muito: há, por exemplo, mais gente ocupada, menos desempregados e mais assalariados do ponto de vista formal, com carteira assinada. Mesmo assim, as pessoas estão trabalhando mais, de forma mais intensa, e esse tempo de trabalho está invadindo cada vez mais a vida particular das pessoas”, afirmou o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea André Gambier Campos nesta quarta-feira, 21, em Brasília, durante a apresentação do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Trabalho e tempo livre.
 
De acordo com a análise feita pelo Instituto, para um grupo dos entrevistados – de 30% e 50% deles – há uma percepção comum da relação entre o tempo de trabalho e o tempo livre: a de que o tempo de trabalho remunerado afeta de modo significativo, crescente e negativo o tempo livre. Isso, segundo o pesquisador, é um fenômeno preocupante, porque gera uma série de consequências negativas para a vida desses trabalhadores, como cansaço, estresse e desmotivação, além de prejuízo das relações familiares e de amizade, das atividades esportivas, educacionais etc.
 
Para André Gambier, não deixa de ser contraditório observar que a percepção desse grupo de entrevistados conflita com a leitura que se fez dos dados da PNAD/IBGE, os quais mostram uma aparente redução da importância do tempo de trabalho na vida cotidiana da população brasileira. Ele disse que parte da explicação pode ser uma “diluição” das fronteiras entre tempo de trabalho e tempo livre, já que para quase metade dos entrevistados, mesmo quando é alcançado o limite da jornada diária, o trabalho continua a acompanhá-los, até mesmo em suas casas.
 
O estudo aponta também que apesar da percepção comum de que o tempo de trabalho afeta de maneira significativa, crescente e negativa a qualidade de vida, somente um quinto dos entrevistados pensam em trocar de ocupação por conta disso. E ainda que a pesquisa não trate especificamente do tempo de trabalho não remunerado, desenvolvido no âmbito doméstico, traz algumas informações a respeito: esse tempo de trabalho é significativo na vida diária dos entrevistados – um quarto das respostas indicam que em caso de nova lei prevendo a diminuição da jornada de trabalho, a principal destinação do tempo livre seria o cuidado com a casa e a família.
 
O SIPS ouviu 3.796 pessoas residentes em áreas urbanas, das cinco regiões do país. A pesquisa analisa, por exemplo, se o trabalhador consegue se desligar das preocupações profissionais após o período de trabalho, se realiza outras atividades cotidianas, se o tempo dedicado ao trabalho compromete sua qualidade de vida, e a percepção a respeito da redução da jornada de trabalho.
 

Você já ouviu falar em Patrimônio Cultural?


Você já ouviu falar em patrimônio cultural? O patrimônio cultural é composto de bens materiais e imateriais que devem ser preservados por causa da sua relevância para uma região, cidade, país ou mesmo para toda a humanidade. O que determina que um bem seja considerado patrimônio cultural é a sua afinidade com a identidade ou cultura de um povo..

Os bens materiais podem ser construções e bens imóveis, como monumentos, igrejas e outros prédios de importância histórica ou arqueológica. Um conjunto de edificações, como é o caso das cidades de Olinda e Ouro Preto, MG, também pode ser considerado patrimônio cultural.

Já os bens imateriais constituem-se das manifestações artísticas, da música, do folclore, da linguagem, dos costumes e até mesmo dos hábitos culinários característicos de um determinado lugar. São considerados patrimônios culturais brasileiros ritmos como o jongo e o samba e comidas típicas como o baião-de-dois, o acarajé e a feijoada.

No Brasil, como você pode conferir aqui, a miscigenação fez que muitos bens relacionados à cultura englobassem características de outros povos, especialmente de índios, negros e uma gama imensa de imigrantes (portugueses, italianos, alemães, árabes, judeus etc.). Embora em sempre a convivência entre tantos povos tenha sido harmônica, pode-se afirmar que dessa diversidade formou-se o que chamamos de cultura brasileira.

 O órgão responsável pela preservação patrimonial no Brasil é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. No site deles é possível descobrir alguns bens materiais e imateriais já protegidos. Clique aqui e confira.

Adaptado de : "10 Lições de sociologia para um Brasil cidadão", de Gilbert Dimenstein et. all.

Cultura Brasileira




Ao longo da história, a base da população brasileira foi constituída pela intensa mestiçagem entre índios, africanos e portugueses (além de pequena participação de franceses e holandeses). Durante os dois primeiros séculos de formação do nosso povo, essa foi a marca que o distinguiu. A partir daí, todo imigrante estrangeiro só reforçou a nossa miscigenação.

Isso quer dizer que a base da nossa cultura resulta da mistura não apenas de três etnias, mas, sobretudo - o que é importantíssimo - de três culturas diferentes. E essa informação é muito mais relevante do que se costuma imaginar. Um dado biológico acerca do brasileiro: a grande maioria do nosso povo tem sangue indígena e mais da metade tem sangue negro. Um dado antropológico (cultural) do povo brasileiro: a colonização portuguesa no Brasil só foi possível porque nós assimilamos e adaptamos os saberes coletivos de índios e negros [e brancos], que nos permitiram sobreviver no mundo tropical, extremamente difícil de ser administrado pelos padrões (culturais) europeus. [...]

Embora as origens da nossa população e da nossa cultura tivessem por base três povos com saberes coletivos muito distintos, uma semelhança curiosa nos unia. Um traço comum às três culturas: privilegiar o presente e não pensar no futuro de longo prazo.

Para um povo indígena que vivia em aldeias ultra saudáveis e num meio ambiente farto e bem conhecido não fazia sentido se preocupar com o amanhã. Todos sabiam que  a sobrevivência estava garantida e que a natureza forneceria tudo o que fosse necessário ao longo do ano inteiro.

Para o africano trazido à força, a condição de escravo impunha pensar apenas na sobrevivência do dia seguinte. Mirar o futuro, em geral, só o fazia deparar com a triste perspectiva de consumir a vida num trabalho brutal, sem família, sem vida própria.

Para o português que viera aventurar-se em terras tropicais, o que o movia era a chamada "febre do ouro". [...] No Brasil, o português tinha pressa. Habitualmente, ele não vinha construir um mundo novo, mas usufruir das riquezas e a liberdade que a Europa seria impossível obter. Assim, é de se supor que os portugueses, em geral, estavam aqui "narcotizados" pela perspectiva do curto prazo: gozar o dia de hoje numa terra sem pecado e sonhar com a sorte de amanhã.

A confluência de três culturas referentes à perspectiva do curto prazo tornou-se uma marca importante na formação da cultura brasileira. A partir do século XIX, no entanto, um fato histórico importante interferiu nessa tendência: a imigração de outros povos com perfis culturais diferentes para o Brasil.

Alemães, italianos, judeus, árabes e japoneses, todos de origem muito humilde, instalaram-se em diversas regiões do país com o firme propósito de construírem um mundo bem mais próspero para eles mesmos, suas famílias e seus descendentes. Para esses imigrantes, a perspectiva do longo prazo era essencial. Toda sua estratégia estava assentada na construção de um futuro em nome do qual abandonaram suas pátrias e, para isso, dispuseram-se a enfrentar um mundo desconhecido e quase sempre muito hostil.

O sucesso do imigrantes e seu traço cultura de pensar o dia de amanhã influenciaram sobremaneira no padrão cultural brasileiro: o de pensar, sobretudo, no dia de hoje.
 
Extraído de: "10 Lições de Sociologia Para um Brasil Cidadão", de Gilberto Dimensteis et. all.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

O que cabelo tem a ver com racismo?

O que cabelo tem a ver com racismo?
 Hoje me deparei com o seguinte comentário nessa rede social de meu Deus: “O que tem a ver racismo com mandar a Blue Ivy pentear o cabelo?
Bom, vamos por partes né? Embora muita gente não saiba (nem sei se ela sabe), mas a Beyoncé é negra (OOOHHH). Sério, ela não é moreninha, café com leite, queimadinha, mulata e outros eufemismos que vocês acham interessante usar porque acham que é muito pesado dizer que uma pessoa é de fato NEGRA. Jay Z também, mas isso ninguém discute porque a negritude dele é indisfarçável.
Logo, Blue Ivy nasceu com cabelos crespos… cabelos esses que crescem pra cima e acreditem não há nada de monstruoso nisso.
Querer submeter um bebê a padrões estéticos eurocêntricos é querer que ela esconda suas origens, porque essas são aparentemente não convencionais e não encontro outra palavra pra definir que não seja racismo.
Uma amiga em um post do seu Blog Reapresentando Cores usou um termo interessante: “Ativismo de Cabelo”. Muita gente pode não entender a necessidade de estarmos o tempo todo afirmando que cabelos crespos não necessitam ser “domados”, não estamos carregando nenhum animal raivoso em nossas cabeças (às vezes eu queria que ele fosse pra abocanhar pessoas que acham certo criar uma petição online para pedir que uma criança de 2 anos penteie seu cabelo). Falaram para “pentear para baixo”, “prender com um arquinho”. Bom, vou contar pra vocês a realidade de uma criança de cabelo crespo, vou contar a realidade que graças a Deus não é a da Blue, caso fosse não causaria tanto incômodo. Nossas mães na tentativa de deixar com a aparência que determinaram como “boa”, penteavam nossos cabelos muitas vezes a seco, causando uma tremenda dor, desembaraçavam e prendiam todo pra trás, nossos olhos chegavam a ficar puxados. Mas okay, nosso crespo socialmente inaceitável, estava domado, era o que esperavam da gente até que chegasse uma idade onde finalmente poderíamos fazer usos de químicas altamente corrosivas, ferros quentes e assim tentassem embranquecer nossos traços.
bruna-de-paula
Recebo mensagens de amigas professoras falando que cada vez mais cedo percebem que as mães buscam procedimentos químicos para alisarem ou relaxarem os cabelos de suas crianças. Eu acho um ato criminoso, porque além de fazer mal a saúde, faz mal a identidade. Essa criança vai crescer entendendo que alisar é o procedimento padrão, que é tão natural quanto se alimentar. Por isso muita gente não considera racismo falar de cabelo, diz que é questão de gosto. Não é estranho ser senso comum considerar justamente um determinado tipo de cabelo como ruim? Não é estranho que o bom seja aquilo que seja mais próximo de uma característica branca?
Sabemos que a população negra enfrentam vários outros desafios sociais, que muitos consideram essa questão de cabelo como secundária ou como algo que nem há necessidade de ser abordado. Mas o corpo é aquilo que somos e essa relação precisa ser bem desenvolvida. O racismo desumaniza, nos faz criar rejeição pelo nosso próprio corpo. Os padrões de beleza cerceiam a liberdade a ponto de atingir uma criança que não deve ter preocupação com cabelo ou qualquer outra coisa. Que mais mães tenham consciência de que o cabelo tem forte significado na construção da identidade da pessoa negra. Que ninguém mais tenha que se envergonhar pelo seu corpo livre de padrões.
E sim, seremos ativistas de cabelo enquanto for necessário.

Fonte: Cultura Upload, por Bruna de Paula

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Trabalho e Emprego

O trabalho flexibilizado e mundializado
O sociólogo brasileiro Octávio Ianni (1926-2004), no artigo "o mundo do trabalho", publicado em 1994 no periódico São Paulo em perspectiva (Seade), afirma que todas as mudanças no mundo do trabalho são quantitativas e qualitativas, e afetam a estrutura social nas mais diferentes escalas. Entre essas mudanças, ele aponta o rompimento dos quadros sociais e mentais que estavam vinculados a uma base nacional. Ele quer dizer que hoje, com o trabalho flexível e volante no mundo todo, pessoas migram para outros países em busca de trabalho. E, assim, nos países a que chegam, geralmente vivem em situação difícil, desenvolvendo trabalhos insalubres e em condições precárias. Além das dificuldades de adaptação, com frequência enfrentam problemas de preconceito racial, religioso e cultural.
O fenômeno dos decasséguis, os brasileiros descendentes de japoneses que se deslocam para trabalhar no Japão por curtas ou longas temporadas, é a expressão bem visível desse processo. Trabalham mais de 12 horas por dia e são explorados ao máximo. Alguns, mais qualificados, conseguem bons empregos, mas a maioria não. A esta restam as opções de voltar ou de lá permanecer marginalizada.

Emprego: o problema é seu
[...] todos os assalariados de uma empresa, não importa qual seja o seu nível hierárquico, não sabem nunca se serão mantidos ou não no emprego, porque não é a riqueza econômica da empresa que vai impedir que exista redução de efetivo. Vou dar o exemplo [...] da Peugeot e da Citroen (GrupoPSA), que conheço bem, na França. É uma empresa que está funcionando muito bem. Ela passa seu tempo a despedir as pessoas de maneira regular. Isso é perversão, mas a perversão está ligada à psicologização. O que quero dizer com isso? Poderão permanecer na empresa apenas aqueles que são considerados de excelente performance. [...] Isso é psicologização, na medida em que, se alguém não consegue conservar o seu trabalho, fala-se tranquilamente: "mas é sua culpa, você não soube se adaptar, você não soube fazer esforços necessários, você não teve uma alma de vencedor, você não é um herói." [...] quer dizer: "você é culpado e não a organização da empresa ou da sociedade. A culpa é só sua." Isso culpabiliza as pessoas de modo quase total, pessoas que, além disso, ficam submetidas ao devotamento, lealdade e fidelidade, mas ela não dá nada em troca. Ela vai dizer simplesmente: você tem a chance de continuar, mas talvez você não permaneça".

Questões:
1) Qual é a principal relação entre os dois textos?
2) O emprego é uma questão pessoal, social ou ambas? Justifique.

Fonte: Dez Lições de Sociologia para um Brasil Cidadão. Gilberto Dimenstein et all.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Uma profissão para chamar de sua


Com as mudanças na sociedade, o mercado passa a exigir novas funções e ocupações. Você pode se aproveitar dessa brecha para fazer o trabalho que sempre quis. (Quadrinhos: João Montanaro)


Giorgio Servius acaba de matar mais um zumbi, a pauladas. O sangue respinga em seu rosto, enquanto ele sinaliza para um colega. A perseguição aumenta, ele mata mais alguns. De repente, ele para. Hora da pausa para o café. Parece coisa de filme, mas é apenas uma terça-feira comum na vida de Giorgio, que é especialista em tecnologia da informação e tem como uma de suas funções testar games em 3D. O sangue, o zumbi, as armas são de mentira, mas parecem reais, projetadas em três dimensões em uma sala com telão de 3 x 4 metros.
Assim como Giorgio, muitas pessoas hoje têm profissões novas, diferentes, que não existiam anos atrás. Isso, em si, não é novidade: sempre que as sociedades mudam, o mundo do trabalho se reinventa, e surgem novas funções. Foi assim quando se criaram novas tecnologias, como a locomotiva a vapor, a prensa móvel e o telefone, por exemplo. A diferença, agora, é que isso acontece numa velocidade muito maior. "As novas profissões surgem para atender a demandas do mundo de hoje", diz a psicóloga Sandra Felicidade, de Campinas (SP). "Há uma série de mudanças de paradigma e as profissões mais tradicionais não dão mais conta, sozinhas, das necessidades deste novo mundo", diz. Algumas pessoas aproveitam essas brechas de mercado para fazer aquilo de que mais gostam.
Esse foi o caso de Carollina Lauriano, que trabalha com inteligência de moda. "Sou jornalista, mas sempre gostei muito de moda e sempre trabalhei com publicidade. Entrei na agência onde trabalho como redatora, como uma forma de estar dentro para poder mostrar meu potencial como analista de mercado", conta. Hoje ela faz análise de mercado e estratégia para empresas no ramo da moda e sua função foi batizada de "inteligência de moda".
Já Julia Janczur, que por sua vez cursou moda, encontrou um caminho profissional que a agradava na consultoria de imagem. "As pessoas confundem o que faço com personal stylist, que era um trabalho que não me agradava tanto. Trata-se de ensinar as pessoas a usar as tendências da moda. Na consultoria de imagem eu não tenho regras totalitárias sobre o que usar ou como usar, nem tenho que seguir as últimas tendências se não for o perfil do cliente. É mais personalizado", diz. Ou seja: os trabalhos de personal stylist e de produção de moda, que também são recentes, já ganharam um novo nicho, mais específico e adequado para o perfil de Julia.
Algumas pessoas não chegam a inventar uma profissão nova, mas descobrem que algo que elas já fazem se encaixa perfeitamente em uma função recém-criada. É o caso de Julia e também de Vitor Massao, que sempre alternou seu tempo entre o trabalho com ONGs e movimentos sociais de juventude com serviços de design prestados muitas vezes a esses grupos. Foi então que conheceu a facilitação gráfica e descobriu uma nova possibilidade profissional. "Vi que aquilo que eu já fazia em minhas próprias anotações, em meus cadernos, durante debates, discussões e processos participativos de movimentos sociais, poderia ajudar os demais a visualizar o andamento da discussão e organizar suas ideias", diz. "Fiz um curso e passei a oferecer também esse tipo de serviço."
A criação de novos nichos é uma estratégia cada vez mais reconhecida no mundo corporativo, como conta a psicóloga Sandra Felicidade. "Existe hoje uma mudança na mentalidade, que questiona a antiga lógica da concorrência. Grandes empresas como o Google conseguiram se firmar, por exemplo, sem disputar mercado com concorrentes, criando um novo nicho. Esta é uma estratégia muito usada: inovar, fazer o novo - e dominar aquele nicho que se criou", diz.
O que você faz?
Nesse mundo das novas profissões, porém, nem tudo são flores. Uma das partes mais difíceis é justamente o reconhecimento da sociedade em relação à nova profissão. Em outras palavras: como convencer o mundo de que seu trabalho é específico e só pode ser executado por você ou pessoas como você?
"A criação de uma nova profissão está ligada à ideia de monopólio de uma certa atividade ou técnica", diz a socióloga Maria Ligia de Oliveira Barbosa, da UFRJ. "Nem toda ocupação é uma profissão; o conceito de profissão sugere algo mais especializado, que justamente não pode ser feito por qualquer pessoa sem uma formação prévia, ainda que essa formação nem sempre seja escolar", diz ela. Segundo a socióloga, o reconhecimento dos colegas e o senso de "classe profissional" também têm um papel fundamental nesse processo.
No caso de Vitor, a batalha do reconhecimento tem sido travada coletivamente, o que facilita um pouco o processo. "Estamos começando a organizar fóruns e eventos onde nós, facilitadores gráficos, podemos trocar informações e experiências e discutir nosso trabalho. Isso dá um senso de coletividade maior e ajuda a sermos reconhecidos também", diz. O contato com outros profissionais da área é uma boa solução para o impasse de encontrar clientela, com troca de experiências, de redes de contato e estratégias de trabalho.
Além disso, é claro, uma boa divulgação do seu trabalho também não faz mal. Para profissionais em atividades "novas", vale mais do que a pena investir num bom website que, além do portfólio, pode conter textos informativos sobre o tipo de trabalho desenvolvido, seus princípios profissionais e as vantagens dos clientes em investir naquele tipo de serviço ou produto.
Mesmo com todas estratégias, porém, nem sempre o dinheiro entra como esperado. A instabilidade financeira é outro desafio que os profissionais de funções recém-criadas enfrentam. Julia conta com a ajuda de seus pais quando precisa e Vitor, que já tinha bastante experiência como freelancer, guardou um dinheiro para poder se assegurar enquanto o retorno financeiro de sua nova atividade não era suficientemente estável. Se você planeja mudar de área ou explorar um novo nicho, o ideal é se planejar para os momentos de vacas magras.
Essa falta de reconhecimento tem seu lado cômico: tentar explicar, para os outros, o que você faz. Se você tem uma profissão conhecida, como médico, advogado, jornalista, é fácil. Mas, quando saímos do esquema tradicional, a coisa fica mais complicada. Como explicar para a avó que mal usa e-mails o que faz um analista de redes sociais? A sensação é de que, para as outras pessoas, você não trabalha de verdade. Quem está acostumado a ver "rotina de trabalho" como ficar das 9h às 18h num escritório muitas vezes não é capaz de ver que o "passeio no shopping" que Julia faz com uma cliente, na verdade, não tem nada de "passeio" ; ou que ficar testando videogames e explorando ambientes em 3D a tarde toda, de óculos e luvas, é parte essencial do trabalho de Giorgio. Quando alguém não levar seu trabalho a sério, não adianta ficar bravo: é hora de ter paciência e, principalmente, bom humor. Encare a situação com leveza.
"É um passo ousado, mas muito recompensador", diz Vitor. A maior satisfação - que, segundo ele, compensa as dificuldades enfrentadas - é ganhar a vida fazendo algo de que se gosta, em vez de se forçar a entrar num esquema profissional e num mercado de trabalho que nem sempre combinam conosco.

João Montanaro é ilustrador e quadrinhista. Aos 17 anos, ainda está decidindo para qual profissão vai prestar vestibular. 



Por Marília Moschkovich é socióloga e professora. Decidiu se aventurar no jornalismo como forma de testar outras possibilidades profissionais.

Antes o mundo não existia

Quando eu vejo as narrativas, mesmo as narrativas chamadas antigas, do Ocidente, as mais antigas, elas sempre são datadas. Nas narrativas tradicionais do nosso povo, das nossas tribos, não tem data, é quando foi criado o fogo, é quando foi criada a Lua, quando nasceram as estrelas, quando nasceram as montanhas, quando nasceram os rios. Antes, antes, já existe uma memória puxando o sentido das coisas, relacionando o sentido dessa fundação do mundo com a vida, com o comportamento nosso, com aquilo que pode ser entendido como o jeito de viver. Esse jeito de viver que informa nossa arquitetura, nossa medicina, a nossa arte, as nossas músicas, nossos cantos.
[...]
Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela tecnologia pesada, concreta. E que talvez a gente fosse um povo como a folha que ai. E que a nossa cultura, os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistirem num mundo preciso, prático: onde os homens organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu pai, meu avô, meus primos, olham aquela montanha e veem o humor da montanha e veem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio... mas o cientista olha o rio e calcula quantos megawatts ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem.
Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte o acervo dos nossos cantos. Mas um engenheiro florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem música,  a montanha não tem humor, e o rio não tem nome. É tudo coisa. Essa mesma cultura, essa mesma tradição, que transforma a natureza em coisa, ela transforma os eventos em datas, tem antes e depois.

KRENAK, Ailton. Antes, o mundo não existia. In: NOVAES, Adauto (org). Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
 
Questões:
1) O texto de Krenak indica outra forma de pensar o mundo da cultura. Você acredita que o tipo de cultura defendido por ele tem condições de sobreviver num mundo cada dia mais tecnificado?
 
2) O que esse tipo de visão de mundo pode ensinar para as pessoas que vivem em nossa sociedade, no século XXI?


Visão de mundo dos indígenas

Questões:
1) Defina etnocentrismo com suas palavras.
2) Relacione o texto ao conceito de etnocentrismo.
3) Cite dois exemplos de atitudes etnocêntricas.

Diálogo entre um chefe tupinambá e um francês na Baía da Guanabara em 1555.

Tupinambá: Por que vindes vós outros, franceses e portugueses, buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?

Francês: Temos muita, mas não desta qualidade. E não a queimamos, mas dela extraímos tinta para tingir, tal como vós fazeis com seus cordões de algodão.

Tupinambá: E por ventura precisais de muita madeira?

Francês: Sim, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.

Tupinambá: Ah! Tu me contas maravilhas... Mas esse homem tão rico de que me falas não morre?

Francês: Sim, morre como os outros.

Tupinambá: E, quando morrem, para quem fica o que deixam?

Francês: Para seus filhos se os têm. Na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos.

Tupinambá: Na verdade, agora vejo que vós outros franceses sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tant para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

[...]

LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2007.
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Etnocentrismo - Atividade

TEXTO: 
Proibição à burca na França: oprimir para libertar? (adaptado)
Por Maíra Kubík Mano*, para o Opera Mundi (publicado em 13/04/2011)
Desde segunda-feira, passou a vigorar, na França, a proibição do uso da burca e do niqab – véu que cobre todo o rosto, deixando apenas um espaço para os olhos – em espaços públicos.
“Ajo em nome da dignidade da mulher”, disse o presidente Nicolas Sarkozy. “Esconder o rosto (…) coloca as pessoas em questão numa situação de exclusão e de inferioridade incompatível com os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade afirmados pela República Francesa”, completou o primeiro-ministro François Fillon. O discurso de ambos, assim como de muitos grupos feministas, é de libertação das mulheres, que seriam oprimidas por seus maridos e pelo Islã.
A iniciativa convenceu a sociedade, pois, segundo pesquisa realizada pelo Pew Global Attitudes Project, 82% dos franceses aprovam a proibição da burca e do niqab.
Mas… será que os franceses perguntaram para as muçulmanas se a burca e o niqab são realmente uma imposição? Não era uma tarefa muito difícil: a estimativa é que apenas 2.000 mulheres portem essa vestimenta no país. Imagino que a França teria capacidade operacional de contatar pelo menos 10% delas para uma sondagem inicial.
Além de impor uma taxa de 150 euros para quem violá-la, determina que qualquer pessoa que force outra a usar a burca seja punida com um ano de prisão e o pagamento de 30 mil euros. Mas se supondo, claro, que seja feita alguma denúncia, o que eu tendo a achar bastante difícil sem um trabalho prévio, por exemplo, de proteção à vítima. 
Ou seja, não duvido que elas acabem ficando em casa porque não podem mais caminhar livremente com sua vestimenta, seja ela uma opção ou não. E há ainda uma hipótese pior: e se a comunidade muçulmana decide rechaçar aquelas que seguirem a nova lei, o Estado francês irá intervir aí também? Provavelmente, não.
O mais complicado, acredito, é que a França simplesmente desconsidera o fato de que as mulheres muçulmanas têm cérebro. Ainda as vê como submissas e atrasadas, sem acesso à informação.
Bem, basta olhar as imagens das revoltas no mundo árabe para perceber que elas estavam, sim, nas ruas, participando ativamente dos protestos e expressando suas vontades. Salvo exceções que remontam a tradições tribais ou a regimes ultra-rígidos, como o saudita, as mulheres islâmicas, assim como as mulheres em todo o mundo, têm tido acesso às universidades e estão se organizando para modificar sua condição de vida. Muitas vezes baseadas numa leitura crítica do Corão, e não em sua rejeição.
Uma demonstração disso podem ser as muçulmanas que saíram na segunda-feira determinadas a serem presas pelo governo francês. “Eu quero me vestir como bem entender. Não fico reclamando daquelas ocidentais que saem por aí seminuas, por que elas têm que questionar o que eu uso?”, declarou uma delas.
É a partir do momento em que as vemos como iguais que podemos debater francamente se o uso do véu é ou não uma opressão, sem imposições legais que atropelem qualquer argumentação. A proibição da burca e do niqab é um atraso no caminho de um mundo com mais equidade porque não é construída por meio do diálogo e do convencimento.
*Maíra Kubík Mano é jornalista e mantém o blog Viva Mulher. Escreveu este artigo a convite do Opera Mundi

CHARGE:



Questões:
1) Na sua opinião, o que teria motivado a proibição da Burca e do Niqab na França?
2) Por que podemos classificar a posição do governo francês de etnocêntrica? Justifique.
3) Relacione a charge ao conceito de etnocentrismo estudado. (Para relembrar o conceito clique aqui).
4) O texto e a charge problematizam a questão da mulher em diferentes sociedades. Faça uma relação entre os dois e dê a sua opinião sobre o tema.

Etnocentrismo e Relativismo Cultural

O Etnocentrismo é a tendência a considerar um grupo étnico como superior a outros. É uma atitude de avaliar qualquer outro grupo social com base nos valores do seu próprio grupo. O Etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “normal” ou “anormal” os comportamentos e as formas de ver o mundo de outros povos, desmerecendo suas práticas. 
As culturas costumam definir o que as pessoas devem usar, se tratar etc. A nossa cultura, ocidental, por exemplo, negou-se a ver as pinturas corporais, os adornos e adereços dos grupos indígenas sul-americanos como uma maneira diferente de se vestir e se enfeitar, e criou-se assim a ideia de que o “índio/a” andaria pelado/a, avaliando esse comportamento como incivilizado. Acreditando na superioridade de sua própria cultura, os europeus intervieram na formas tradicionais de vida existentes nos outros continentes, procurando transformá-las.
Costumamos “ver” o mundo através de nossa cultura, utilizando-a como parâmetro para julgarmos outras culturas, acreditando que a nossa visão, nosso modo de vida, a nossa cultura são corretos, normais. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável, em seus casos extremos, pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. 
O relativismo cultural afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar. O relativismo é a "Postura segundo qual toda avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam de culturas." O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo sendo análises aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas. 
O relativismo, portanto, sugere conformar e não confrontar as diferenças culturais, tanto em nossa sociedade quanto em outra cultura particular. Ele parte da ideia de que a cultura é relativa, ou seja, não é absoluta. Na questão dos europeus e seu contato com os indígenas americanos, por exemplo, uma atitude relativista compreenderia que vestir as roupas europeias é uma das maneiras possíveis de cobrir a nudez. Pintar o corpo pode ser compreendida, assim, como uma outra forma de cobrir o corpo. 
O relativismo é um ponto de vista extremo oposto ao etnocentrismo, que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais. Assim podemos concluir que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. “Todo ponto de vista é válido”.

Adaptado de http://veronica-mos.blogspot.com.br/2013/05/aulas-de-sociologia-ensino-medio-2-ano.html

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O que é cultura?

Quando se fala de cultura de um povo, o que se entende por cultura?
Talvez uma resposta razoável para essa questão seja a seguinte: a cultura de um povo é o conjunto de saberes coletivos desse povo. E o que são saberes coletivos de um povo?
Entre os índios kaapor, por exemplo, todos os homens, a partir de uma certa idade, sabem construir seus próprios arcos e flechas. Não é pouco conhecimento. Pelo contrário, para fazer arcos e flechas é preciso conhecer um mundo de coisas e dominar um conjunto de técnicas bastante sofisticadas: saber andar no mato, saber distinguir as árvores certas que fornecem madeira para o arco e outras para a flecha etc.
Como esse é um saber compartilhado por vários indivíduos da aldeia, dizemos que se trata de um saber coletivo daqueles índios. Existem outros saberes coletivos que são compartilhados por praticamente todos os indivíduos de um grupo. Por exemplo, numa aldeia indígena todos dominam a língua nativa daquele povo.
Vamos pensar agora na população de uma grande cidade brasileira. Um saber coletivo dessa população é, por exemplo, saber andar de ônibus pela cidade, o que implica também saber andar a pé pelas ruas da cidade. Pode parecer óbvio saber pegar um ônibus, mas um índio arrancado da floresta e colocado subitamente numa cidade grande poderá estranhar tudo e se dar mal por não dominar uma série de normas e códigos urbanos. Assim como alguém "arrancado" da cidade que seja "lançado" no meio da floresta também terá poucas chances de sobreviver.
Mas os saberes coletivos vão além de fabricar arco e flecha ou de saber tomar ônibus na cidade. Envolvem modos comuns de pensar, sentir e agir que seguem modelos (mutáveis) para a vida em sociedade. Valores morais ou códigos de conduta de uma sociedade, por exemplo, são saberes coletivos que permitem a convivência dos indivíduos numa comunidade e, por isso, também, a sobrevivência daquela sociedade.
Assim, uma coisa importante de se saber é que normas e valores de um povo também são saberes coletivos desse povo e costumam ser importantes para a sobrevivência dos seus indivíduos.

Adaptado de Dez Lições de Sociologia para um Brasil Cidadão. Gilberto Dimenstein et all.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Ciência da sociedade

Leia o texto abaixo:

Mas o que é uma atitude científica em Sociologia? É a atitude de, a partir da constatação de um problema social, observar os fatos e a realidade dos indivíduos e grupos, suas relações, formular uma hipótese de explicação e, ao final, pronunciar leis ou tendências de que um fato ocorre por motivos tais e tais.

Vamos descrever um exemplo: temos um problema social que se chama desemprego (é social porque atinge vários indivíduos). A partir dessa constatação, poderíamos formular a hipótese de que a política econômica de um governo promove o desemprego. Em seguida, passamos a observar a realidade com dados estatísticos em mãos, pesquisas com desempregados para ver os motivos que levaram ao desemprego. Ao final, retornamos a nossa hipótese e podemos verificar que a política macroeconômica tende a provocar desemprego em massa num país (...) 

OLIVEIRA, Luiz Fernando e COSTA, Ricardo Cesar Rocha. Sociologia para jovens do século XXI. Rio de Janeiro: Imperial Novo Milênio, 2007. Página 26. 

1) Quais diferenças entre um conhecimento do senso comum e um conhecimento sociológico você pode destacar?

2) Dê exemplos sobre preconceitos sociais que você conhece que são baseados no senso comum (mínimo de 3).

3) Como você poderia usar o conhecimento sociológico para desconstruir esses exemplos de preconceito?

 

Vizinhos e internautas

Rio de Janeiro - Estudiosos do comportamento humano na vida moderna constatam que um dos males de nossa época é a incomunicabilidade das pessoas. Já foi tempo em que, mesmo nas grandes cidades, nos bairros residenciais, ao cair da tarde era costume os vizinhos se darem boa noite, levarem as cadeiras de vime para as calçadas e ficar falando da vida, da própria e da dos outros.
A densidade demográfica, os apartamentos, a violência urbana, o rádio e mais tarde a TV ilharam cada indivíduo o casulo doméstico. Moro há 18 anos num prédio da Lagoa; tirante os raros e inevitáveis cumprimentos de praxe no elevador ou na garagem, não falo com eles nem eles comigo. Não sou exceção. Nesse lamentável departamento, sou regra.
Daí que não entendo a pressão que volta e meia me fazem para navegar na internet. Um dos argumentos que me dão é que posso falar com pessoas na Indonésia, saber como vão as colheitas de arroz na China e como estão os melões na Espanha.
Uma de minhas filhas vangloria-se de ser internauta. Tem amigos na Pensilvânia e arranjou um admirador em Dublin, terra do Joyce, do Berard Shaw e do Oscar Wilde. Para convencê-la de seus méritos, ele mandou uma foto em cor que foi impressa em alta resolução. É um jovem simpático, de bigode, cara honesta. Pode ser que tenha mandado a foto de um outro.
Lembro a correspondência sentimental das velhas revistas de antanho. Havia sempre a promessa: "Troco fotos na primeira carta". Nunca ouvi dizer que uma dessas trocas tenha tido resultado aproveitável. Para vencer a incomunicabilidade, acredito que o internauta deva primeiro aprender a se comunicar com o vizinho de porta, de prédio, de rua. Passamos uns pelos outros com o desdém de nosso silêncio, de nossa cara amarrada. Os suicidas se realizam porque, na hora do desespero, falta o vizinho que lhe deseje sinceramente uma boa noite.
CONY, Carlos Heitor. Vizinhos e internautas. Folha de S. Paulo, 26 jun. 1997. Opinião, p. A2

Atividade:
1) No texto, Carlos Heitor Cony fala de mudanças que ocorreram nas cidades nos últimos anos. No lugar onde você vive, ocorreram mudanças importantes nos últimos trinta anos? Cite pelo menos duas e explique como elas alteraram o modo de vida e as relações entre as pessoas.
2) Você pensa que as mudanças na sociedade podem influir no comportamento das pessoas no espaço da família, da escola ou de outros grupos de convívio? De que forma?
3) A internet nos aproxima de muitas pessoas que com frequência nem conhecemos, mas parece que nos distancia de quem está perto de nós. O que você pensa disso?
4) Reflita brevemente sobre como seria seu relacionamento com sua família e amigos se não existisse comunicação online. O que seria diferente? O que seria melhor? O que seria pior?

quarta-feira, 5 de março de 2014

Quer fazer o que ama? Esqueça os rótulos!*

Quem você acha que mais ama o que faz,um médico ou um motorista de ônibus?
 
Para a maioria das pessoas é muito mais fácil associar a ideia de fazer o que se ama com profissões “cool” ou cheias de prestígio,  com trabalhos de cunho intelectual e que pagam muito bem do que com aqueles que não são reconhecidos por esse fatores.
O trabalho de um médico é salvar vidas, poucas profissões tem um propósito tão nobre quanto esse, certo? Já um motorista de ônibus fica o dia todo dirigindo por caminhos repetidos,  executando um trabalho essencialmente mecânico e sem grande propósito para humanidade.
Eis aí a armadilha de quem quer fazer o que ama: o julgamento raso. Eu não poderia definir se um pessoa ama o que faz sem antes saber COMO essa pessoa faz o que faz e qual o significado daquele trabalho para aquela pessoa em especial. Por causa desses rótulos tem muita gente hoje infeliz com o trabalho pois na busca por profissões “superiores” ou apreciadas pela maioria, acabam fazendo o que não gostam.
Às vezes é preciso muita coragem para buscar e assumir o trabalho que tem a ver com a gente. Um exemplo disso é um amigo meu chamado Leonardo que foi meu veterano na faculdade. Nós cursamos Ciências Biológicas na Esalq (USP de Piracicaba) juntos. Durante a faculdade ele focou sua pesquisa principalmente no campo da herpetologia,  que é o estudo dos répteis e anfíbios, participou de congressos, fez iniciação científica, 2 anos de mestrado e muitas outras coisas relacionadas ao assunto. Trabalhou duro durante 7 anos na universidade e depois que se formou sabe o que ele foi fazer?
 Virou motorista de ônibus. Olha só o figura:
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E não virou motorista porque não havia oportunidades dentro da Biologia, mas sim porque ônibus sempre foi uma de suas maiores paixões. Hoje ele trabalha na Viação Paraty, onde além de dirigir também é responsável por coordenar as escalas e fiscalizar o andamento das linhas.
Pode ter gente que olha e acha estranho, “puxa mas o cara fez USP para virar motorista?”
E daí!!!!?
O cara está feliz vivendo diariamente em contato com a sua paixão, quem dera se todos os motoristas de ônibus fizessem seu trabalho da forma como ele faz. Olha só um dos depoimentos que ele fez no Facebook:
 
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 Você percebe o significado que ele dá para a sua profissão?
 “…nós que transportamos a carga mais valiosa que existe a VIDA”.
 Por outro lado, tem um montão de pessoas em profissões mais “glamourosas” que não colocam nem metade da alma e coração que Leonardo coloca no trabalho. Ou seja, trabalham com algo considerado “glamouroso” pelo mainstream, mas com o qual não se identificam em nada, o que faz com que seja muito difícil se realizarem no trabalho.
Esses exemplos me levam a pensar que qualquer pessoa pode trabalhar no que gosta, mas que tudo depende da forma como ela enxerga e dá significado à sua própria profissão e à forma como ela se relaciona com o trabalho, de uma forma geral: qual significado o trabalho tem na vida de cada um?
Isso na verdade já foi objeto de estudo e é retratado no livro Felicidade Autêntica, escrito por Martin Seligman, fundador da Psicologia Positiva. Nele Martin diz:
“qualquer tarefa pode tornar-se uma vocação, e qualquer vocação pode tornar-se uma tarefa. Um médico que veja seu trabalho como uma tarefa a cumprir e esteja interessado simplesmente em ganhar dinheiro não tem vocação; um coletor de lixo que veja seu trabalho como a missão de fazer o mundo mais limpo e mais saudável para se viver tem vocação”
Os responsáveis por essa descoberta foram a professora da Universidade de Nova York,  Amy Wrzesniewski e seus colegas. Eles estudaram 28 serventes de hospital cujas tarefas eram basicamente limpar quartos de um hospital. No estudo, notaram que os serventes que veem o trabalho como vocação fazem de tudo para torná-lo significativo. Eles se consideram importantes para o processo de cura, e se organizam de modo a conseguir o máximo de eficiência. Antecipam-se às necessidades de médicos e enfermeiros, para que estes tenham mais tempo de se dedicarem ao tratamento propriamente dito. Chegam a fazer mais do que seria sua obrigação, tentando alegrar a vida dos pacientes. Os serventes sem vocação viam seus trabalhos como uma simples limpeza de quartos.
 De acordo com esses estudos existem três formas de enxergarmos nosso trabalho:
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Tarefa – é quando você faz um trabalho simplesmente em troca do pagamento no final do mês, sem procurar outras recompensas. É apenas um meio a serviço de um fim, como por exemplo, sustentar sua família. Se não há pagamento você se afasta.
Carreira - é quando você vincula seu trabalho a um investimento pessoal mais profundo. Suas realizações são marcadas pelo dinheiro, mas também pelo progresso profissional. Cada promoção traz mais prestígio e poder, além do aumento de salario.
Vocação - é quando você tem um compromisso apaixonado pelo trabalho. Pessoas que sentem que têm uma vocação veem seu trabalho como uma contribuição para o bem maior, para algo além delas. O próprio trabalho é fator de realização e continua sendo, ainda que não haja grandes quantias de dinheiro ou promoções envolvidas.
Dan Ariely também fez alguns experimentos interessantes relacionados a felicidade no trabalho, e mais uma vez o sentimento de significado apareceu como algo fundamental para nos sentirmos importantes e felizes com nossas profissão.
[...]
Toda atividade no mundo tem um propósito, fazer o que se ama é uma questão de entender como os seus principais propósitos, suas forças e sua disposição em aprender com suas experiências se alinham com as suas atividades profissionais. Não precisa necessariamente ser de bermuda, fazendo um trabalho cool, em um ambiente moderninho. Também não estamos falando aqui de brilhantismo: fazer o que se ama tem muito mais a ver com disposição em aprender e em muitas horas de dedicação do que com já ser brilhante em algo (raramente nascemos brilhantes em uma área de conhecimento sem nunca ter nos dedicado a ela). Nem precisa “largar tudo”. Talvez, “largar todos” (os padrões e rótulos alheios) e assumir que vai se dedicar à própria vocação.

*Escrito por Carolina Nalon, com colaboração de Natália Menhem.
Publicado originalmente e na íntegra em https://blog.99jobs.com/quer-fazer-o-que-ama-esqueca-os-rotulos/#_ftn1