TEXTO:
Proibição à burca na França: oprimir
para libertar? (adaptado)
Por Maíra Kubík Mano*, para o Opera Mundi (publicado em 13/04/2011)
Desde
segunda-feira, passou a vigorar, na França, a proibição do uso da burca e do
niqab – véu que cobre todo o rosto, deixando apenas um espaço para os olhos –
em espaços públicos.
“Ajo
em nome da dignidade da mulher”, disse o presidente Nicolas Sarkozy. “Esconder
o rosto (…) coloca as pessoas em questão numa situação de exclusão e de
inferioridade incompatível com os princípios de liberdade, igualdade e
fraternidade afirmados pela República Francesa”, completou o primeiro-ministro
François Fillon. O discurso de ambos, assim como de muitos grupos feministas, é
de libertação das mulheres, que seriam oprimidas por seus maridos e pelo Islã.
A
iniciativa convenceu a sociedade, pois, segundo pesquisa realizada pelo Pew
Global Attitudes Project, 82% dos franceses aprovam a proibição da burca e do
niqab.
Mas…
será que os franceses perguntaram para as muçulmanas se a burca e o niqab são
realmente uma imposição? Não era uma tarefa muito difícil: a estimativa é que
apenas 2.000 mulheres portem essa vestimenta no país. Imagino que a França
teria capacidade operacional de contatar pelo menos 10% delas para uma sondagem
inicial.
Além de impor uma taxa de 150 euros para quem
violá-la, determina que qualquer pessoa que force outra a usar a burca seja
punida com um ano de prisão e o pagamento de 30 mil euros. Mas se supondo,
claro, que seja feita alguma denúncia, o que eu tendo a achar bastante difícil
sem um trabalho prévio, por exemplo, de proteção à vítima.
Ou
seja, não duvido que elas acabem ficando em casa porque não podem mais caminhar
livremente com sua vestimenta, seja ela uma opção ou não. E
há ainda uma hipótese pior: e se a comunidade muçulmana decide rechaçar aquelas
que seguirem a nova lei, o Estado francês irá intervir aí também?
Provavelmente, não.
O
mais complicado, acredito, é que a França simplesmente desconsidera o fato de
que as mulheres muçulmanas têm cérebro. Ainda as vê como submissas e atrasadas,
sem acesso à informação.
Bem,
basta olhar as imagens das revoltas no mundo árabe para perceber que elas
estavam, sim, nas ruas, participando ativamente dos protestos e expressando
suas vontades. Salvo exceções que remontam a tradições tribais ou a regimes
ultra-rígidos, como o saudita, as mulheres islâmicas, assim como as mulheres em
todo o mundo, têm tido acesso às universidades e estão se organizando para
modificar sua condição de vida. Muitas vezes baseadas numa leitura crítica do
Corão, e não em sua rejeição.
Uma
demonstração disso podem ser as muçulmanas que saíram na segunda-feira
determinadas a serem presas pelo governo francês. “Eu quero me vestir como bem
entender. Não fico reclamando daquelas ocidentais que saem por aí seminuas, por
que elas têm que questionar o que eu uso?”, declarou uma delas.
É
a partir do momento em que as vemos como iguais que podemos debater francamente
se o uso do véu é ou não uma opressão, sem imposições legais que atropelem
qualquer argumentação. A proibição da burca e do niqab é um atraso no caminho
de um mundo com mais equidade porque não é construída por meio do diálogo e do
convencimento.
*Maíra Kubík Mano é jornalista e mantém o blog Viva
Mulher. Escreveu este artigo a convite do Opera Mundi
CHARGE:
Questões:
1) Na sua opinião, o que teria motivado
a proibição da Burca e do Niqab na França?
2) Por que podemos classificar a
posição do governo francês de etnocêntrica? Justifique.
3) Relacione a charge ao conceito de
etnocentrismo estudado. (Para relembrar o conceito clique aqui).
4) O texto e a
charge problematizam a questão da mulher em diferentes sociedades. Faça uma
relação entre os dois e dê a sua opinião sobre o tema.
Eu nao concordo com essa proibição das burcas, pois acho que cada um tem o direito de se vestir como quiser, na verdade eu acho o etnocentrismo totalmente um modo de preconceito, acho que cada um deveria respeitar o padrao do outro, o modo de se vestir, modo de falar.. Todos acham seu padrao normal, mas nem sempre o que e normal pra mim, pode ser normal para outras pessoas.
ResponderExcluirLuane Borges, turma: 1003.
também acho.
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