quinta-feira, 22 de maio de 2014

Uma profissão para chamar de sua


Com as mudanças na sociedade, o mercado passa a exigir novas funções e ocupações. Você pode se aproveitar dessa brecha para fazer o trabalho que sempre quis. (Quadrinhos: João Montanaro)


Giorgio Servius acaba de matar mais um zumbi, a pauladas. O sangue respinga em seu rosto, enquanto ele sinaliza para um colega. A perseguição aumenta, ele mata mais alguns. De repente, ele para. Hora da pausa para o café. Parece coisa de filme, mas é apenas uma terça-feira comum na vida de Giorgio, que é especialista em tecnologia da informação e tem como uma de suas funções testar games em 3D. O sangue, o zumbi, as armas são de mentira, mas parecem reais, projetadas em três dimensões em uma sala com telão de 3 x 4 metros.
Assim como Giorgio, muitas pessoas hoje têm profissões novas, diferentes, que não existiam anos atrás. Isso, em si, não é novidade: sempre que as sociedades mudam, o mundo do trabalho se reinventa, e surgem novas funções. Foi assim quando se criaram novas tecnologias, como a locomotiva a vapor, a prensa móvel e o telefone, por exemplo. A diferença, agora, é que isso acontece numa velocidade muito maior. "As novas profissões surgem para atender a demandas do mundo de hoje", diz a psicóloga Sandra Felicidade, de Campinas (SP). "Há uma série de mudanças de paradigma e as profissões mais tradicionais não dão mais conta, sozinhas, das necessidades deste novo mundo", diz. Algumas pessoas aproveitam essas brechas de mercado para fazer aquilo de que mais gostam.
Esse foi o caso de Carollina Lauriano, que trabalha com inteligência de moda. "Sou jornalista, mas sempre gostei muito de moda e sempre trabalhei com publicidade. Entrei na agência onde trabalho como redatora, como uma forma de estar dentro para poder mostrar meu potencial como analista de mercado", conta. Hoje ela faz análise de mercado e estratégia para empresas no ramo da moda e sua função foi batizada de "inteligência de moda".
Já Julia Janczur, que por sua vez cursou moda, encontrou um caminho profissional que a agradava na consultoria de imagem. "As pessoas confundem o que faço com personal stylist, que era um trabalho que não me agradava tanto. Trata-se de ensinar as pessoas a usar as tendências da moda. Na consultoria de imagem eu não tenho regras totalitárias sobre o que usar ou como usar, nem tenho que seguir as últimas tendências se não for o perfil do cliente. É mais personalizado", diz. Ou seja: os trabalhos de personal stylist e de produção de moda, que também são recentes, já ganharam um novo nicho, mais específico e adequado para o perfil de Julia.
Algumas pessoas não chegam a inventar uma profissão nova, mas descobrem que algo que elas já fazem se encaixa perfeitamente em uma função recém-criada. É o caso de Julia e também de Vitor Massao, que sempre alternou seu tempo entre o trabalho com ONGs e movimentos sociais de juventude com serviços de design prestados muitas vezes a esses grupos. Foi então que conheceu a facilitação gráfica e descobriu uma nova possibilidade profissional. "Vi que aquilo que eu já fazia em minhas próprias anotações, em meus cadernos, durante debates, discussões e processos participativos de movimentos sociais, poderia ajudar os demais a visualizar o andamento da discussão e organizar suas ideias", diz. "Fiz um curso e passei a oferecer também esse tipo de serviço."
A criação de novos nichos é uma estratégia cada vez mais reconhecida no mundo corporativo, como conta a psicóloga Sandra Felicidade. "Existe hoje uma mudança na mentalidade, que questiona a antiga lógica da concorrência. Grandes empresas como o Google conseguiram se firmar, por exemplo, sem disputar mercado com concorrentes, criando um novo nicho. Esta é uma estratégia muito usada: inovar, fazer o novo - e dominar aquele nicho que se criou", diz.
O que você faz?
Nesse mundo das novas profissões, porém, nem tudo são flores. Uma das partes mais difíceis é justamente o reconhecimento da sociedade em relação à nova profissão. Em outras palavras: como convencer o mundo de que seu trabalho é específico e só pode ser executado por você ou pessoas como você?
"A criação de uma nova profissão está ligada à ideia de monopólio de uma certa atividade ou técnica", diz a socióloga Maria Ligia de Oliveira Barbosa, da UFRJ. "Nem toda ocupação é uma profissão; o conceito de profissão sugere algo mais especializado, que justamente não pode ser feito por qualquer pessoa sem uma formação prévia, ainda que essa formação nem sempre seja escolar", diz ela. Segundo a socióloga, o reconhecimento dos colegas e o senso de "classe profissional" também têm um papel fundamental nesse processo.
No caso de Vitor, a batalha do reconhecimento tem sido travada coletivamente, o que facilita um pouco o processo. "Estamos começando a organizar fóruns e eventos onde nós, facilitadores gráficos, podemos trocar informações e experiências e discutir nosso trabalho. Isso dá um senso de coletividade maior e ajuda a sermos reconhecidos também", diz. O contato com outros profissionais da área é uma boa solução para o impasse de encontrar clientela, com troca de experiências, de redes de contato e estratégias de trabalho.
Além disso, é claro, uma boa divulgação do seu trabalho também não faz mal. Para profissionais em atividades "novas", vale mais do que a pena investir num bom website que, além do portfólio, pode conter textos informativos sobre o tipo de trabalho desenvolvido, seus princípios profissionais e as vantagens dos clientes em investir naquele tipo de serviço ou produto.
Mesmo com todas estratégias, porém, nem sempre o dinheiro entra como esperado. A instabilidade financeira é outro desafio que os profissionais de funções recém-criadas enfrentam. Julia conta com a ajuda de seus pais quando precisa e Vitor, que já tinha bastante experiência como freelancer, guardou um dinheiro para poder se assegurar enquanto o retorno financeiro de sua nova atividade não era suficientemente estável. Se você planeja mudar de área ou explorar um novo nicho, o ideal é se planejar para os momentos de vacas magras.
Essa falta de reconhecimento tem seu lado cômico: tentar explicar, para os outros, o que você faz. Se você tem uma profissão conhecida, como médico, advogado, jornalista, é fácil. Mas, quando saímos do esquema tradicional, a coisa fica mais complicada. Como explicar para a avó que mal usa e-mails o que faz um analista de redes sociais? A sensação é de que, para as outras pessoas, você não trabalha de verdade. Quem está acostumado a ver "rotina de trabalho" como ficar das 9h às 18h num escritório muitas vezes não é capaz de ver que o "passeio no shopping" que Julia faz com uma cliente, na verdade, não tem nada de "passeio" ; ou que ficar testando videogames e explorando ambientes em 3D a tarde toda, de óculos e luvas, é parte essencial do trabalho de Giorgio. Quando alguém não levar seu trabalho a sério, não adianta ficar bravo: é hora de ter paciência e, principalmente, bom humor. Encare a situação com leveza.
"É um passo ousado, mas muito recompensador", diz Vitor. A maior satisfação - que, segundo ele, compensa as dificuldades enfrentadas - é ganhar a vida fazendo algo de que se gosta, em vez de se forçar a entrar num esquema profissional e num mercado de trabalho que nem sempre combinam conosco.

João Montanaro é ilustrador e quadrinhista. Aos 17 anos, ainda está decidindo para qual profissão vai prestar vestibular. 



Por Marília Moschkovich é socióloga e professora. Decidiu se aventurar no jornalismo como forma de testar outras possibilidades profissionais.

Antes o mundo não existia

Quando eu vejo as narrativas, mesmo as narrativas chamadas antigas, do Ocidente, as mais antigas, elas sempre são datadas. Nas narrativas tradicionais do nosso povo, das nossas tribos, não tem data, é quando foi criado o fogo, é quando foi criada a Lua, quando nasceram as estrelas, quando nasceram as montanhas, quando nasceram os rios. Antes, antes, já existe uma memória puxando o sentido das coisas, relacionando o sentido dessa fundação do mundo com a vida, com o comportamento nosso, com aquilo que pode ser entendido como o jeito de viver. Esse jeito de viver que informa nossa arquitetura, nossa medicina, a nossa arte, as nossas músicas, nossos cantos.
[...]
Alguns anos atrás, quando eu vi o quanto que a ciência dos brancos estava desenvolvida, com seus aviões, máquinas, computadores, mísseis, eu fiquei um pouco assustado. Eu comecei a duvidar que a tradição do meu povo, que a memória ancestral do meu povo, pudesse subsistir num mundo dominado pela tecnologia pesada, concreta. E que talvez a gente fosse um povo como a folha que ai. E que a nossa cultura, os nossos valores, fossem muito frágeis para subsistirem num mundo preciso, prático: onde os homens organizam seu poder e submetem a natureza, derrubam as montanhas. Onde um homem olha uma montanha e calcula quantos milhões de toneladas de cassiterita, bauxita, ouro ali pode ter. Enquanto meu pai, meu avô, meus primos, olham aquela montanha e veem o humor da montanha e veem se ela está triste, feliz ou ameaçadora, e fazem cerimônia para a montanha, cantam para ela, cantam para o rio... mas o cientista olha o rio e calcula quantos megawatts ele vai produzir construindo uma hidrelétrica, uma barragem.
Nós acampamos no mato, e ficamos esperando o vento nas folhas das árvores, para ver se ele ensina uma cantiga nova, um canto cerimonial novo, se ele ensina, e você ouve, você repete muitas vezes esse canto, até você aprender. E depois você mostra esse canto para os seus parentes, para ver se ele é reconhecido, se ele é verdadeiro. Se ele é verdadeiro ele passa a fazer parte o acervo dos nossos cantos. Mas um engenheiro florestal olha a floresta e calcula quantos milhares de metros cúbicos de madeira ele pode ter. Ali não tem música,  a montanha não tem humor, e o rio não tem nome. É tudo coisa. Essa mesma cultura, essa mesma tradição, que transforma a natureza em coisa, ela transforma os eventos em datas, tem antes e depois.

KRENAK, Ailton. Antes, o mundo não existia. In: NOVAES, Adauto (org). Tempo e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
 
Questões:
1) O texto de Krenak indica outra forma de pensar o mundo da cultura. Você acredita que o tipo de cultura defendido por ele tem condições de sobreviver num mundo cada dia mais tecnificado?
 
2) O que esse tipo de visão de mundo pode ensinar para as pessoas que vivem em nossa sociedade, no século XXI?


Visão de mundo dos indígenas

Questões:
1) Defina etnocentrismo com suas palavras.
2) Relacione o texto ao conceito de etnocentrismo.
3) Cite dois exemplos de atitudes etnocêntricas.

Diálogo entre um chefe tupinambá e um francês na Baía da Guanabara em 1555.

Tupinambá: Por que vindes vós outros, franceses e portugueses, buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?

Francês: Temos muita, mas não desta qualidade. E não a queimamos, mas dela extraímos tinta para tingir, tal como vós fazeis com seus cordões de algodão.

Tupinambá: E por ventura precisais de muita madeira?

Francês: Sim, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.

Tupinambá: Ah! Tu me contas maravilhas... Mas esse homem tão rico de que me falas não morre?

Francês: Sim, morre como os outros.

Tupinambá: E, quando morrem, para quem fica o que deixam?

Francês: Para seus filhos se os têm. Na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos.

Tupinambá: Na verdade, agora vejo que vós outros franceses sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tant para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

[...]

LÉRY, Jean de. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 2007.
 

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Etnocentrismo - Atividade

TEXTO: 
Proibição à burca na França: oprimir para libertar? (adaptado)
Por Maíra Kubík Mano*, para o Opera Mundi (publicado em 13/04/2011)
Desde segunda-feira, passou a vigorar, na França, a proibição do uso da burca e do niqab – véu que cobre todo o rosto, deixando apenas um espaço para os olhos – em espaços públicos.
“Ajo em nome da dignidade da mulher”, disse o presidente Nicolas Sarkozy. “Esconder o rosto (…) coloca as pessoas em questão numa situação de exclusão e de inferioridade incompatível com os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade afirmados pela República Francesa”, completou o primeiro-ministro François Fillon. O discurso de ambos, assim como de muitos grupos feministas, é de libertação das mulheres, que seriam oprimidas por seus maridos e pelo Islã.
A iniciativa convenceu a sociedade, pois, segundo pesquisa realizada pelo Pew Global Attitudes Project, 82% dos franceses aprovam a proibição da burca e do niqab.
Mas… será que os franceses perguntaram para as muçulmanas se a burca e o niqab são realmente uma imposição? Não era uma tarefa muito difícil: a estimativa é que apenas 2.000 mulheres portem essa vestimenta no país. Imagino que a França teria capacidade operacional de contatar pelo menos 10% delas para uma sondagem inicial.
Além de impor uma taxa de 150 euros para quem violá-la, determina que qualquer pessoa que force outra a usar a burca seja punida com um ano de prisão e o pagamento de 30 mil euros. Mas se supondo, claro, que seja feita alguma denúncia, o que eu tendo a achar bastante difícil sem um trabalho prévio, por exemplo, de proteção à vítima. 
Ou seja, não duvido que elas acabem ficando em casa porque não podem mais caminhar livremente com sua vestimenta, seja ela uma opção ou não. E há ainda uma hipótese pior: e se a comunidade muçulmana decide rechaçar aquelas que seguirem a nova lei, o Estado francês irá intervir aí também? Provavelmente, não.
O mais complicado, acredito, é que a França simplesmente desconsidera o fato de que as mulheres muçulmanas têm cérebro. Ainda as vê como submissas e atrasadas, sem acesso à informação.
Bem, basta olhar as imagens das revoltas no mundo árabe para perceber que elas estavam, sim, nas ruas, participando ativamente dos protestos e expressando suas vontades. Salvo exceções que remontam a tradições tribais ou a regimes ultra-rígidos, como o saudita, as mulheres islâmicas, assim como as mulheres em todo o mundo, têm tido acesso às universidades e estão se organizando para modificar sua condição de vida. Muitas vezes baseadas numa leitura crítica do Corão, e não em sua rejeição.
Uma demonstração disso podem ser as muçulmanas que saíram na segunda-feira determinadas a serem presas pelo governo francês. “Eu quero me vestir como bem entender. Não fico reclamando daquelas ocidentais que saem por aí seminuas, por que elas têm que questionar o que eu uso?”, declarou uma delas.
É a partir do momento em que as vemos como iguais que podemos debater francamente se o uso do véu é ou não uma opressão, sem imposições legais que atropelem qualquer argumentação. A proibição da burca e do niqab é um atraso no caminho de um mundo com mais equidade porque não é construída por meio do diálogo e do convencimento.
*Maíra Kubík Mano é jornalista e mantém o blog Viva Mulher. Escreveu este artigo a convite do Opera Mundi

CHARGE:



Questões:
1) Na sua opinião, o que teria motivado a proibição da Burca e do Niqab na França?
2) Por que podemos classificar a posição do governo francês de etnocêntrica? Justifique.
3) Relacione a charge ao conceito de etnocentrismo estudado. (Para relembrar o conceito clique aqui).
4) O texto e a charge problematizam a questão da mulher em diferentes sociedades. Faça uma relação entre os dois e dê a sua opinião sobre o tema.

Etnocentrismo e Relativismo Cultural

O Etnocentrismo é a tendência a considerar um grupo étnico como superior a outros. É uma atitude de avaliar qualquer outro grupo social com base nos valores do seu próprio grupo. O Etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “normal” ou “anormal” os comportamentos e as formas de ver o mundo de outros povos, desmerecendo suas práticas. 
As culturas costumam definir o que as pessoas devem usar, se tratar etc. A nossa cultura, ocidental, por exemplo, negou-se a ver as pinturas corporais, os adornos e adereços dos grupos indígenas sul-americanos como uma maneira diferente de se vestir e se enfeitar, e criou-se assim a ideia de que o “índio/a” andaria pelado/a, avaliando esse comportamento como incivilizado. Acreditando na superioridade de sua própria cultura, os europeus intervieram na formas tradicionais de vida existentes nos outros continentes, procurando transformá-las.
Costumamos “ver” o mundo através de nossa cultura, utilizando-a como parâmetro para julgarmos outras culturas, acreditando que a nossa visão, nosso modo de vida, a nossa cultura são corretos, normais. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável, em seus casos extremos, pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. 
O relativismo cultural afirma que as verdades (morais, religiosas, políticas, científicas, etc.) variam conforme a época, o lugar, o grupo social e os indivíduos de cada lugar. O relativismo é a "Postura segundo qual toda avaliação é relativa a algum padrão, seja qual for, e os padrões derivam de culturas." O relativismo, dessa forma, leva em consideração diversos tipos de análise, mesmo sendo análises aparentemente contraditórias. As diversas culturas humanas geram diferentes padrões segundo os quais as avaliações são geradas. 
O relativismo, portanto, sugere conformar e não confrontar as diferenças culturais, tanto em nossa sociedade quanto em outra cultura particular. Ele parte da ideia de que a cultura é relativa, ou seja, não é absoluta. Na questão dos europeus e seu contato com os indígenas americanos, por exemplo, uma atitude relativista compreenderia que vestir as roupas europeias é uma das maneiras possíveis de cobrir a nudez. Pintar o corpo pode ser compreendida, assim, como uma outra forma de cobrir o corpo. 
O relativismo é um ponto de vista extremo oposto ao etnocentrismo, que leva em consideração apenas um ponto de vista em detrimento aos demais. Assim podemos concluir que o Relativismo é um termo filosófico que se baseia na relatividade do conhecimento e repudia qualquer verdade ou valor absoluto. “Todo ponto de vista é válido”.

Adaptado de http://veronica-mos.blogspot.com.br/2013/05/aulas-de-sociologia-ensino-medio-2-ano.html

segunda-feira, 12 de maio de 2014

O que é cultura?

Quando se fala de cultura de um povo, o que se entende por cultura?
Talvez uma resposta razoável para essa questão seja a seguinte: a cultura de um povo é o conjunto de saberes coletivos desse povo. E o que são saberes coletivos de um povo?
Entre os índios kaapor, por exemplo, todos os homens, a partir de uma certa idade, sabem construir seus próprios arcos e flechas. Não é pouco conhecimento. Pelo contrário, para fazer arcos e flechas é preciso conhecer um mundo de coisas e dominar um conjunto de técnicas bastante sofisticadas: saber andar no mato, saber distinguir as árvores certas que fornecem madeira para o arco e outras para a flecha etc.
Como esse é um saber compartilhado por vários indivíduos da aldeia, dizemos que se trata de um saber coletivo daqueles índios. Existem outros saberes coletivos que são compartilhados por praticamente todos os indivíduos de um grupo. Por exemplo, numa aldeia indígena todos dominam a língua nativa daquele povo.
Vamos pensar agora na população de uma grande cidade brasileira. Um saber coletivo dessa população é, por exemplo, saber andar de ônibus pela cidade, o que implica também saber andar a pé pelas ruas da cidade. Pode parecer óbvio saber pegar um ônibus, mas um índio arrancado da floresta e colocado subitamente numa cidade grande poderá estranhar tudo e se dar mal por não dominar uma série de normas e códigos urbanos. Assim como alguém "arrancado" da cidade que seja "lançado" no meio da floresta também terá poucas chances de sobreviver.
Mas os saberes coletivos vão além de fabricar arco e flecha ou de saber tomar ônibus na cidade. Envolvem modos comuns de pensar, sentir e agir que seguem modelos (mutáveis) para a vida em sociedade. Valores morais ou códigos de conduta de uma sociedade, por exemplo, são saberes coletivos que permitem a convivência dos indivíduos numa comunidade e, por isso, também, a sobrevivência daquela sociedade.
Assim, uma coisa importante de se saber é que normas e valores de um povo também são saberes coletivos desse povo e costumam ser importantes para a sobrevivência dos seus indivíduos.

Adaptado de Dez Lições de Sociologia para um Brasil Cidadão. Gilberto Dimenstein et all.