Após mais de cinco séculos de lutas, e apesar dos preconceitos, a formação do povo brasileiro incorporou várias contribuições trazidas pelos povos indígenas e pelos negros africanos.
Gastronomia, música e dança, folclore e mitos, manifestações religiosas, expressões linguísticas, dentre outras, são apenas algumas das áreas em que essas contribuições são facilmente identificadas. A literatura,o cinema, o teatro e a televisão receberam influências de iracemas e macunaímas, de zumbis e sacis.
Apesar disso, os povos indígenas e os afrodescendentes ainda hoje enfrentam dificuldades para obter sua integração social. A maioria dos índios e negros vive em situação precária, tendo poucas oportunidades de acesso às condições básicas que garantam sua sobrevivência.
No caso dos índios, mesmo após a proibição de sua escravização, o estrago já estava feito. sem resistência contra as doenças trazidas pelos europeus, muitas tribos foram dizimadas. Os que praticavam rituais antropofágicos, inaceitáveis pela lógica cristã, ou os que defendiam as terras em que viviam diante da expansão agrícola foram mortos em "guerras justas". Se o extermínio não veio pela escravização, ele quase se realizou no simples contato com os portugueses.
No início da colonização, existiam mais de 1.500 grupos tribais, com grandes diferenças culturais entre si.. Para se ter uma noção dessa diversidade, basta citar que havia mais de 1.300 línguas indígenas. Dessas, sobreviveram cerca de 180, além das faladas por alguns poucos grupos ainda hoje isolados e sobre os quais não há estudos de classificação linguística.
Hoje, considera-se que a população indígena tenha cerca de 350 mil indivíduos, além de milhares de índios que vivem nas cidades. Mais da metade vive nas regiões Centro-Oeste e Norte.
Várias tribos lutam para garantir a posse de suas terras. As áreas demarcadas são frequentemente invadidas por brancos em busca de madeiras nobres e metais preciosos. Em alguns estados amazônicos, é comum encontrarmos campanhas contra a criação de novas reservas indígenas. Muitas aldeias convivem com doenças, alcoolismo e suicídios de jovens sem perspectivas de futuro.. Rotulados de modo pejorativo, esses índios sofrem grave discriminação.
Em relação aos descendentes dos escravos africanos, a situação não é melhor. Leis como a Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico marítimo de escravos em 1850, a do Ventre Libre (1871) e a dos Sexagenários (1885) foram formas de protelar ao máximo o fim da escravidão, atendendo aos interesses dos grandes proprietários de terras. Somente com a chegada dos imigrantes, a partir da segunda metade do século XIX, é que a mão-de-obra escrava foi sendo lentamente substituída pelo trabalho desses imigrantes.
Com o fim da escravidão, declarado legalmente pela Lei Áurea em 13 de maio de 1888, milhões de negros foram "libertados" e a maioria saiu das senzalas para favelas e cortiços. Sem acesso a emprego, moradia, educação, muitos negros libertos tornaram-se mão-de-obra barata nos centros urbanos, caindo muitas vezes na marginalidade. Tudo isso só fez reforçar o preconceito racial, que já era muito grande.
Ainda hoje, as estatísticas demonstram que a maioria da população carcerária no Brasil é constituída de negros e mulatos. Esses grupos também são os que têm menor escolaridade, maior taxa de mortalidade infantil, menor índice de expectativa de vida.
Hoje, diversos movimentos conquistaram leis em favor dos direitos da população negra. O Estado brasileiro tornou-se responsável por políticas públicas destinadas a pagar a dívida histórica que o país tem com os afrodescendentes.
Ações afirmativas, como a política de cotas nas uniersidades federais,foram pensadas para que durante alguns anos uma parcela da população negra e índia tenha maior acesso ao ensino superior. Ações como essa provocam muitas polêmicas e não há consenso sobre como encaminhá-las.
Mesmo depois de tanto tempo, com tantas barreiras para se promover a integração entre os povos que habitavam o Brasil, não é de se estranhar que os negros e índios ainda tenham de lutar até serem aceitos definitivamente como parte do povo brasileiro.
Fonte: "10 Lições de Sociologia - para um Brasil cidadão", Gilberto Dimenstein
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