quarta-feira, 30 de julho de 2014

Trabalho remunerado diminui tempo livre


Todas as análises que têm sido feitas demonstram que desde os anos 2000 o mercado de trabalho brasileiro tem melhorado muito: há, por exemplo, mais gente ocupada, menos desempregados e mais assalariados do ponto de vista formal, com carteira assinada. Mesmo assim, as pessoas estão trabalhando mais, de forma mais intensa, e esse tempo de trabalho está invadindo cada vez mais a vida particular das pessoas”, afirmou o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea André Gambier Campos nesta quarta-feira, 21, em Brasília, durante a apresentação do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) sobre Trabalho e tempo livre.
 
De acordo com a análise feita pelo Instituto, para um grupo dos entrevistados – de 30% e 50% deles – há uma percepção comum da relação entre o tempo de trabalho e o tempo livre: a de que o tempo de trabalho remunerado afeta de modo significativo, crescente e negativo o tempo livre. Isso, segundo o pesquisador, é um fenômeno preocupante, porque gera uma série de consequências negativas para a vida desses trabalhadores, como cansaço, estresse e desmotivação, além de prejuízo das relações familiares e de amizade, das atividades esportivas, educacionais etc.
 
Para André Gambier, não deixa de ser contraditório observar que a percepção desse grupo de entrevistados conflita com a leitura que se fez dos dados da PNAD/IBGE, os quais mostram uma aparente redução da importância do tempo de trabalho na vida cotidiana da população brasileira. Ele disse que parte da explicação pode ser uma “diluição” das fronteiras entre tempo de trabalho e tempo livre, já que para quase metade dos entrevistados, mesmo quando é alcançado o limite da jornada diária, o trabalho continua a acompanhá-los, até mesmo em suas casas.
 
O estudo aponta também que apesar da percepção comum de que o tempo de trabalho afeta de maneira significativa, crescente e negativa a qualidade de vida, somente um quinto dos entrevistados pensam em trocar de ocupação por conta disso. E ainda que a pesquisa não trate especificamente do tempo de trabalho não remunerado, desenvolvido no âmbito doméstico, traz algumas informações a respeito: esse tempo de trabalho é significativo na vida diária dos entrevistados – um quarto das respostas indicam que em caso de nova lei prevendo a diminuição da jornada de trabalho, a principal destinação do tempo livre seria o cuidado com a casa e a família.
 
O SIPS ouviu 3.796 pessoas residentes em áreas urbanas, das cinco regiões do país. A pesquisa analisa, por exemplo, se o trabalhador consegue se desligar das preocupações profissionais após o período de trabalho, se realiza outras atividades cotidianas, se o tempo dedicado ao trabalho compromete sua qualidade de vida, e a percepção a respeito da redução da jornada de trabalho.
 

Você já ouviu falar em Patrimônio Cultural?


Você já ouviu falar em patrimônio cultural? O patrimônio cultural é composto de bens materiais e imateriais que devem ser preservados por causa da sua relevância para uma região, cidade, país ou mesmo para toda a humanidade. O que determina que um bem seja considerado patrimônio cultural é a sua afinidade com a identidade ou cultura de um povo..

Os bens materiais podem ser construções e bens imóveis, como monumentos, igrejas e outros prédios de importância histórica ou arqueológica. Um conjunto de edificações, como é o caso das cidades de Olinda e Ouro Preto, MG, também pode ser considerado patrimônio cultural.

Já os bens imateriais constituem-se das manifestações artísticas, da música, do folclore, da linguagem, dos costumes e até mesmo dos hábitos culinários característicos de um determinado lugar. São considerados patrimônios culturais brasileiros ritmos como o jongo e o samba e comidas típicas como o baião-de-dois, o acarajé e a feijoada.

No Brasil, como você pode conferir aqui, a miscigenação fez que muitos bens relacionados à cultura englobassem características de outros povos, especialmente de índios, negros e uma gama imensa de imigrantes (portugueses, italianos, alemães, árabes, judeus etc.). Embora em sempre a convivência entre tantos povos tenha sido harmônica, pode-se afirmar que dessa diversidade formou-se o que chamamos de cultura brasileira.

 O órgão responsável pela preservação patrimonial no Brasil é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. No site deles é possível descobrir alguns bens materiais e imateriais já protegidos. Clique aqui e confira.

Adaptado de : "10 Lições de sociologia para um Brasil cidadão", de Gilbert Dimenstein et. all.

Cultura Brasileira




Ao longo da história, a base da população brasileira foi constituída pela intensa mestiçagem entre índios, africanos e portugueses (além de pequena participação de franceses e holandeses). Durante os dois primeiros séculos de formação do nosso povo, essa foi a marca que o distinguiu. A partir daí, todo imigrante estrangeiro só reforçou a nossa miscigenação.

Isso quer dizer que a base da nossa cultura resulta da mistura não apenas de três etnias, mas, sobretudo - o que é importantíssimo - de três culturas diferentes. E essa informação é muito mais relevante do que se costuma imaginar. Um dado biológico acerca do brasileiro: a grande maioria do nosso povo tem sangue indígena e mais da metade tem sangue negro. Um dado antropológico (cultural) do povo brasileiro: a colonização portuguesa no Brasil só foi possível porque nós assimilamos e adaptamos os saberes coletivos de índios e negros [e brancos], que nos permitiram sobreviver no mundo tropical, extremamente difícil de ser administrado pelos padrões (culturais) europeus. [...]

Embora as origens da nossa população e da nossa cultura tivessem por base três povos com saberes coletivos muito distintos, uma semelhança curiosa nos unia. Um traço comum às três culturas: privilegiar o presente e não pensar no futuro de longo prazo.

Para um povo indígena que vivia em aldeias ultra saudáveis e num meio ambiente farto e bem conhecido não fazia sentido se preocupar com o amanhã. Todos sabiam que  a sobrevivência estava garantida e que a natureza forneceria tudo o que fosse necessário ao longo do ano inteiro.

Para o africano trazido à força, a condição de escravo impunha pensar apenas na sobrevivência do dia seguinte. Mirar o futuro, em geral, só o fazia deparar com a triste perspectiva de consumir a vida num trabalho brutal, sem família, sem vida própria.

Para o português que viera aventurar-se em terras tropicais, o que o movia era a chamada "febre do ouro". [...] No Brasil, o português tinha pressa. Habitualmente, ele não vinha construir um mundo novo, mas usufruir das riquezas e a liberdade que a Europa seria impossível obter. Assim, é de se supor que os portugueses, em geral, estavam aqui "narcotizados" pela perspectiva do curto prazo: gozar o dia de hoje numa terra sem pecado e sonhar com a sorte de amanhã.

A confluência de três culturas referentes à perspectiva do curto prazo tornou-se uma marca importante na formação da cultura brasileira. A partir do século XIX, no entanto, um fato histórico importante interferiu nessa tendência: a imigração de outros povos com perfis culturais diferentes para o Brasil.

Alemães, italianos, judeus, árabes e japoneses, todos de origem muito humilde, instalaram-se em diversas regiões do país com o firme propósito de construírem um mundo bem mais próspero para eles mesmos, suas famílias e seus descendentes. Para esses imigrantes, a perspectiva do longo prazo era essencial. Toda sua estratégia estava assentada na construção de um futuro em nome do qual abandonaram suas pátrias e, para isso, dispuseram-se a enfrentar um mundo desconhecido e quase sempre muito hostil.

O sucesso do imigrantes e seu traço cultura de pensar o dia de amanhã influenciaram sobremaneira no padrão cultural brasileiro: o de pensar, sobretudo, no dia de hoje.
 
Extraído de: "10 Lições de Sociologia Para um Brasil Cidadão", de Gilberto Dimensteis et. all.