quarta-feira, 17 de junho de 2015

O Panóptico de Foucault

O Panóptico de Bentham [...] é conhecido: na periferia, uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior correspondendo às janelas, uma para o interior correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo feito da contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhetas cativas as celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visível. O dispositivo panóptico oganiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e reconheer imediatamente. Em suma, o princípio da masmrra é invertido; ou antes, de suas três funções - trancar, privar de luz e esconder - só se conserva a primeira e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia capta melhor do que a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha [...].
 Daí o efeito mais importante do Panóptico: induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder. Fazer com que a vigilâncias seja permanente em seus efeitos, mesmo se é descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exercício; que esse aparelho arquitetural seja um máquina de criar e sustentar uma relação de poder dependente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de poder de que eles mesmos são os portadores.  Para isso, é ao mesmo tempo excessivo e muito pouco que o prisioneiro seja observado sem cessar por um vigia: muito pouco, pois o essencial é que ele se saiba vigiado; excessivo, porque ele não tem necessidade de sê-lo efetivamente. Por isso, Bentham colocou o princípio de que o poder devia ser visível e inverificável. Visível: sem cessar o detento terá diante dos olhos a alta silhueta da torre central de onde é espionado. Inverificável: o detento nunca deve saber se está sendo observado; mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo. Para tornar indecidível a presença ou a ausência do vigia, para que os prisioneiros, de suas celas, não pudessem nem perceber uma sombra ou enxergar uma contraluz, previu Bentham, não só persianas nas janelas da sala central de vigia, mas, por dentro, separações que a cortam em ângulo reto e, para passar de um quarto a outro, não portas, mas biombos: pois a menor batida, a luz entrevista, uma claridade, numa abertura, trariam a presença do guardião. O Panóptico é uma máquina de dissociar o par ver-ser-visto: no anel periférico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, vê-se tudo, sem nunca ser visto.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 34ed. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 165-167.

Um comentário:

  1. Esse sistema trata da vigilância e da ênfase nas mudanças e rupturas, ou seja o plano ''Panóptico'' foi a criação para a moldação do comportamento humano, onde a pessoa que ficava presa naquele sistema mesmo não querendo se ajustava e poderia ser liberada naquela sociedade que se dizia capitalista democrática.Hoje em dia mesmo não percebendo somos moldados nesse plano pelos sites, nas ruas, através de câmeras de segurança, acabamos sendo quem as pessoas querem que nos sejamos, não quem somos de verdade. Daniele Maria O. de Miranda - Colégio Pedro Fernandes - 3004

    ResponderExcluir